Intel mira mercado de banda larga móvel
VALOR - WEB - 25/06/09
de Estocolmo
Um dia depois de ter anunciado uma parceria com a Nokia, a fabricante de microprocessadores Intel apresentou ontem a estratégia com que pretende atuar no promissor mercado de banda larga móvel.
A companhia americana aposta numa multiplicidade de dispositivos que serão conectados à web por meio das redes sem fio - além dos celulares e dos computadores utilizados hoje. Assim como os netbooks, os PCs ultraportáteis que começaram a se popularizar no ano passado, outros aparelhos capacitados a acessar as redes sem fio devem surgir nos próximos anos, na visão da companhia.
"A Intel está desenhando agora os produtos que estarão no mercado daqui a três ou quatro anos", afirmou o diretor mundial da Intel para o mercado de telecomunicações, John Woodget. De acordo com o executivo, esses dispositivos terão baixo consumo de energia, uma bateria que terá de ser carregada uma vez ao dia e poderão ser acessados remotamente pela companhia de telefonia provedora do acesso à banda larga.
"Vai haver uma proliferação desses aparelhos", disse Woodget, que participou ontem de um fórum de inovação realizado pela Ericsson. Na avaliação da Intel, em 2015 haverá no mundo todo 15 bilhões de dispositivos equipados com chips de telefonia móvel. "As operadoras vão vendê-los da mesma forma que hoje vendem o telefone celular", observou o executivo.
Recentemente, as operadoras americanas AT&T e Verizon começaram a oferecer netbooks que já vêm com o chip dessas respectivas operadoras embutido. O modelo é parecido com o que se popularizou nos celulares: as empresas subsidiam os equipamentos conforme o plano de serviços ao qual o assinante adere. Mas, nesse caso, para ter direito ao desconto o cliente tem de aderir a um pacote de transmissão de dados.
Para Woodget, esse modelo pode ser extrapolado para uma série de dispositivos que ainda estão sendo desenvolvidos ou que já existem, mas passarão a ser conectáveis às redes de banda larga móvel proporcionadas pelas novas gerações da telefonia celular.
É nesse contexto que se encaixa a parceria da Intel com a Nokia, sobre a qual o executivo não quis dar muitos detalhes. "É uma parceria de cooperação tecnológica. Ela mostra a importância que a Intel dá à colaboração entre as empresas do setor. Nosso trabalho é estar conectados a todos os segmentos da indústria", afirmou.
O acordo com a Nokia prevê o uso de chips da Intel nos terminais produzidos pela companhia finlandesa e o desenvolvimento conjunto de novos tipos de aparelhos para o acesso à internet.
Iniciativas como essa e a aposta na criação de novas possibilidades para a conexão à web são as armas da Intel para buscar um lugar ao sol no mercado de telefonia móvel. Até hoje, a empresa americana não conseguiu assegurar uma participação relevante no setor. A ARM Holdings é o maior provedor dos processadores utilizados nos chips de celulares, fornecidos por companhias como a Qualcomm.
Para reverter essa situação, a Intel tem apostado suas fichas no Atom, um microprocessador de baixo consumo de energia que tem sido utilizado nos computadores ultraportáteis.
É fundamental para a Intel começar a cavar seu espaço no mercado de dispositivos para redes de banda larga móvel para que a empresa consiga ampliar as vendas dos chips que produz. A companhia lidera com folga o mercado de microprocessadores para PCs. No entanto, é ponto pacífico na indústria de tecnologia que os computadores tradicionais serão apenas um dos caminhos para processar informações e se conectar à internet. Outros equipamentos "inteligentes" vão começar a disputar esse espaço - daí a preocupação da Intel em participar do desenvolvimento desses novos produtos, que serão utilizados na comunicação entre pessoas ou entre máquinas.
A Ericsson trabalha com a estimativa de que, em 2020, haverá 50 bilhões de dispositivos conectados no mundo todo. Isso inclui tocadores de música, câmeras fotográficas, sistemas de telemetria embutidos em máquinas, rastreadores de veículos etc. A Intel tem projeções mais conservadoras: serão 20 bilhões de conexões móveis nesse mesmo ano. De qualquer forma, é um salto significativo em relação aos 4 bilhões de telefones móveis utilizados hoje no mundo todo.
A preocupação da fabricante em não ficar de fora desse crescimento também se traduz na maior cautela que a Intel vem adotando em sua defesa do WiMax, padrão tecnológico de banda larga móvel que concorre com as redes de telefonia celular.
Durante anos, a Intel tem sido a maior incentivadora do WiMax. A empresa tentou promover a tecnologia no mundo todo, mas até agora ela não deslanchou. Mais do que isso, esse padrão bate de frente com a tecnologia desenvolvida por grandes fornecedores de infraestrutura para a quarta geração (4G) da telefonia móvel, chamada de LTE.
A Intel tem evitado escolher uma ou outra tecnologia. Se o LTE ganhar escala e se tornar dominante, a empresa não quer correr o risco de fechar portas nesse mercado. "A Intel promove todos os padrões e tenta tirar proveito de todos eles", disse o executivo. "Entramos no WiMax anos atrás, quando a visão sobre o mercado de banda larga móvel era diferente."
A repórter viajou a convite da Ericsson
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