Vivendi tem interesse na GVT
VALOR ECONÔMICO - EU& INVESTIMENTOS - SÃO PAULO - 09/09/09 - Pg. D1
Por Talita Moreira, de São Paulo
O conglomerado francês de mídia Vivendi embaralhou completamente as cartas do jogo das telecomunicações no Brasil ao lançar ontem uma oferta para a compra do controle acionário da GVT - uma proposta que avalia a operadora em R$ 5,4 bilhões ou € 2 bilhões.
O negócio traz um novo competidor ao mercado brasileiro de telecomunicações e coloca em cena uma companhia com um pé na telefonia e outro na distribuição de conteúdo - território onde as teles brasileiras vêm tentando dar seus primeiros passos.
A Vivendi é o primeiro investidor estratégico que o Brasil atrai desde 2004, quando a mexicana Telmex adquiriu a Embratel. De quebra, o grupo francês arrebata o controle da operadora queridinha do mercado. Nos últimos anos, a GVT tornou-se lucrativa, lançou um ambicioso plano de expansão e tem crescido mais que a média das teles brasileiras.
Estamos muito entusiasmados. A Vivendi é um líder mundial em telecomunicações e entretenimento, afirmou o presidente da GVT, Amos Genish, numa entrevista concedida ao Valor na noite de ontem.
A Vivendi vai oferecer R$ 42 por ação da operadora e estabeleceu como condição para fechar o negócio adquirir pelo menos 51% dos papéis. Os controladores da GVT já firmaram o compromisso de vender pelo menos 20% dos 30% que detêm. Além disso, cancelaram a oferta secundária de ações que haviam lançado há menos de um mês.
No entanto, para a operação seguir adiante, os acionistas da GVT terão de votar, em assembleia geral, uma mudança no estatuto da companhia. O artigo 43 estabelece as chamadas pílulas de veneno contra aquisições hostis. Será necessário, portanto, retirar essas barreiras para o negócio ser fechado.
Conforme o estatuto da GVT, essa mudança pode ser decidida por maioria simples em assembleia que tenha o quórum mínimo de 30% das ações. Essa fatia de 30% é justamente a que os controladores detêm. Resta saber se a Comissão de Valores Mobiliários permitirá que os acionistas majoritários votem nessa assembleia ou se os proibirá, como fez alguns anos atrás no caso de uma reestruturação proposta pela Oi - na ocasião, a autarquia proibiu os detentores de ações ordinárias de entrar na contagem dos votos.
O caso da GVT pode ter desfecho diferente, segundo analista que preferiu não ser identificado. Diferentemente da Oi, a GVT só tem uma classe de ações, observou. Isso significa que está todo mundo - controladores e minoritários - no mesmo barco.
Indagado pelo Valor, Genish não quis revelar quando começaram as negociações com a Vivendi. Os controladores anunciaram no dia 19 de agosto a intenção de fazer uma oferta secundária de ações. A operação foi mal recebida pelos investidores, que interpretaram o movimento dos acionistas majoritários como uma sinalização de que estaria na hora de vender os papéis, que não teriam mais um grande horizonte de valorização.
Curiosamente, a medida também foi absorvida no mercado como indício de que estariam distantes as esperadas negociações para a venda do controle acionário da GVT a um investidor estratégico.
Nos últimos anos, foram recorrentes as especulações de que a GVT seria vendida para a Telefónica. A operadora tem uma rede complementar à do grupo espanhol no Brasil e ajudaria os ibéricos a acelerar a expansão de sua rede de banda larga. Os rumores ganharam ainda mais força após a compra da Brasil Telecom pela Oi, concluída em janeiro deste ano.
Nada impede que a Telefónica faça, agora, uma proposta para desbancar a Vivendi. Mas o presidente da operadora espanhola afirmou recentemente ao Valor que a aquisição da GVT não estava nos planos neste momento.
De qualquer forma, a jogada da Vivendi muda muita coisa. A chegada de um novo competidor deve surpreender as operadoras locais, já que o setor estava, até agora, desenhado em cima de três pilares - os espanhóis da Telefónica, os mexicanos da Telmex/Claro e, mais recentemente, os brasileiros da Oi.
O movimento do grupo francês mostra que a consolidação no setor de telefonia não acabou e, mais do que isso, pode não ser tão óbvia quanto parecia.
A Vivendi atua em várias frentes. A mais conhecida delas é a indústria fonográfica. O grupo controla a gravadora Universal Music. No segmento de TV, a empresa é dona do Canal+, produtora e operadora de TV na França, e tem participação de 20% na NBC Universal. Ela também controla as operadoras de telefonia móvel SFR, na França, e de telefonia fixa e móvel Maroc Telecom, no Marrocos.
Segundo Genish, a Vivendi poderá gerar valor para a GVT na oferta de conteúdo multimídia, na área de televisão sobre protocolo de internet e numa eventual entrada da operadora na telefonia móvel.
Há mais de um ano, a GVT vem fazendo testes para lançar uma operação comercial de TV paga por meio de sua rede de banda larga (IPTV). Restrições regulatórias e desafios técnicos fizeram com que o projeto não deslanchasse até agora.
Ao mesmo tempo, executivos da GVT já afirmaram que a operadora teria interesse em atuar na telefonia móvel e um caminho interessante seria alugar a rede de outra empresa do setor - é o que se chama de operadora virtual. Esse desenho ainda não foi regulamentado no Brasil, mas a Vivendi tem experiência na área e é provável que aumente a pressão para que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) libere esse formato de serviço.
A proposta da Vivendi é baseada numa visão de investimento de longo prazo, destacou Genish. Para ele, o grupo francês tem potencial para mexer profundamente com o mercado brasileiro de telecomunicações. Ela tem ativos, especialmente na área de conteúdo, que as outras operadoras não têm.
Segundo o executivo, a GVT está em boa forma financeira para fazer investimentos, mas a Vivendi deve fortalecer os projetos da operadora. Em comunicado, a companhia francesa destacou que sua experiência em conteúdo vai ajudar a GVT nos seus planos de entrar em novos segmentos de mercado, como o de IPTV.
A Vivendi também declarou, nessa nota, que Genish permanecerá como executivo-chefe e que Shaul Shani continuará sendo o presidente do conselho de administração. Além da aprovação dos minoritários, o negócio precisa do sinal verde da Anatel. Mas, em princípio, não há impedimentos regulatórios à venda da operadora brasileira.
O conglomerado francês de mídia Vivendi embaralhou completamente as cartas do jogo das telecomunicações no Brasil ao lançar ontem uma oferta para a compra do controle acionário da GVT - uma proposta que avalia a operadora em R$ 5,4 bilhões ou € 2 bilhões.
O negócio traz um novo competidor ao mercado brasileiro de telecomunicações e coloca em cena uma companhia com um pé na telefonia e outro na distribuição de conteúdo - território onde as teles brasileiras vêm tentando dar seus primeiros passos.
A Vivendi é o primeiro investidor estratégico que o Brasil atrai desde 2004, quando a mexicana Telmex adquiriu a Embratel. De quebra, o grupo francês arrebata o controle da operadora queridinha do mercado. Nos últimos anos, a GVT tornou-se lucrativa, lançou um ambicioso plano de expansão e tem crescido mais que a média das teles brasileiras.
Estamos muito entusiasmados. A Vivendi é um líder mundial em telecomunicações e entretenimento, afirmou o presidente da GVT, Amos Genish, numa entrevista concedida ao Valor na noite de ontem.
A Vivendi vai oferecer R$ 42 por ação da operadora e estabeleceu como condição para fechar o negócio adquirir pelo menos 51% dos papéis. Os controladores da GVT já firmaram o compromisso de vender pelo menos 20% dos 30% que detêm. Além disso, cancelaram a oferta secundária de ações que haviam lançado há menos de um mês.
No entanto, para a operação seguir adiante, os acionistas da GVT terão de votar, em assembleia geral, uma mudança no estatuto da companhia. O artigo 43 estabelece as chamadas pílulas de veneno contra aquisições hostis. Será necessário, portanto, retirar essas barreiras para o negócio ser fechado.
Conforme o estatuto da GVT, essa mudança pode ser decidida por maioria simples em assembleia que tenha o quórum mínimo de 30% das ações. Essa fatia de 30% é justamente a que os controladores detêm. Resta saber se a Comissão de Valores Mobiliários permitirá que os acionistas majoritários votem nessa assembleia ou se os proibirá, como fez alguns anos atrás no caso de uma reestruturação proposta pela Oi - na ocasião, a autarquia proibiu os detentores de ações ordinárias de entrar na contagem dos votos.
O caso da GVT pode ter desfecho diferente, segundo analista que preferiu não ser identificado. Diferentemente da Oi, a GVT só tem uma classe de ações, observou. Isso significa que está todo mundo - controladores e minoritários - no mesmo barco.
Indagado pelo Valor, Genish não quis revelar quando começaram as negociações com a Vivendi. Os controladores anunciaram no dia 19 de agosto a intenção de fazer uma oferta secundária de ações. A operação foi mal recebida pelos investidores, que interpretaram o movimento dos acionistas majoritários como uma sinalização de que estaria na hora de vender os papéis, que não teriam mais um grande horizonte de valorização.
Curiosamente, a medida também foi absorvida no mercado como indício de que estariam distantes as esperadas negociações para a venda do controle acionário da GVT a um investidor estratégico.
Nos últimos anos, foram recorrentes as especulações de que a GVT seria vendida para a Telefónica. A operadora tem uma rede complementar à do grupo espanhol no Brasil e ajudaria os ibéricos a acelerar a expansão de sua rede de banda larga. Os rumores ganharam ainda mais força após a compra da Brasil Telecom pela Oi, concluída em janeiro deste ano.
Nada impede que a Telefónica faça, agora, uma proposta para desbancar a Vivendi. Mas o presidente da operadora espanhola afirmou recentemente ao Valor que a aquisição da GVT não estava nos planos neste momento.
De qualquer forma, a jogada da Vivendi muda muita coisa. A chegada de um novo competidor deve surpreender as operadoras locais, já que o setor estava, até agora, desenhado em cima de três pilares - os espanhóis da Telefónica, os mexicanos da Telmex/Claro e, mais recentemente, os brasileiros da Oi.
O movimento do grupo francês mostra que a consolidação no setor de telefonia não acabou e, mais do que isso, pode não ser tão óbvia quanto parecia.
A Vivendi atua em várias frentes. A mais conhecida delas é a indústria fonográfica. O grupo controla a gravadora Universal Music. No segmento de TV, a empresa é dona do Canal+, produtora e operadora de TV na França, e tem participação de 20% na NBC Universal. Ela também controla as operadoras de telefonia móvel SFR, na França, e de telefonia fixa e móvel Maroc Telecom, no Marrocos.
Segundo Genish, a Vivendi poderá gerar valor para a GVT na oferta de conteúdo multimídia, na área de televisão sobre protocolo de internet e numa eventual entrada da operadora na telefonia móvel.
Há mais de um ano, a GVT vem fazendo testes para lançar uma operação comercial de TV paga por meio de sua rede de banda larga (IPTV). Restrições regulatórias e desafios técnicos fizeram com que o projeto não deslanchasse até agora.
Ao mesmo tempo, executivos da GVT já afirmaram que a operadora teria interesse em atuar na telefonia móvel e um caminho interessante seria alugar a rede de outra empresa do setor - é o que se chama de operadora virtual. Esse desenho ainda não foi regulamentado no Brasil, mas a Vivendi tem experiência na área e é provável que aumente a pressão para que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) libere esse formato de serviço.
A proposta da Vivendi é baseada numa visão de investimento de longo prazo, destacou Genish. Para ele, o grupo francês tem potencial para mexer profundamente com o mercado brasileiro de telecomunicações. Ela tem ativos, especialmente na área de conteúdo, que as outras operadoras não têm.
Segundo o executivo, a GVT está em boa forma financeira para fazer investimentos, mas a Vivendi deve fortalecer os projetos da operadora. Em comunicado, a companhia francesa destacou que sua experiência em conteúdo vai ajudar a GVT nos seus planos de entrar em novos segmentos de mercado, como o de IPTV.
A Vivendi também declarou, nessa nota, que Genish permanecerá como executivo-chefe e que Shaul Shani continuará sendo o presidente do conselho de administração. Além da aprovação dos minoritários, o negócio precisa do sinal verde da Anatel. Mas, em princípio, não há impedimentos regulatórios à venda da operadora brasileira.
Postar um comentário