Para especialistas, maior desafio será gerenciar imagem arranhada
VALOR ECONÔMICO - TECNOLOGIA - SÃO PAULO - 23/06/09 - Pg. B3
A paralisação das vendas do Speed pode até não acarretar, no curto prazo, grandes prejuízos financeiros para a Telefônica. Em março deste ano, o Speedy somava 2,65 milhões de assinantes, um crescimento de 23,6% na comparação anual. Nos 12 meses, foram vendidos 490,8 mil contratos do serviço, uma média de 41 mil novas assinaturas por mês.
No primeiro trimestre do ano, período em que a Telefônica já enfrentava uma série de reclamações sobre o Speedy, o faturamento com a transmissão de dados atingiu R$ 1,05 bilhão, alta de 20,9% sobre os R$ 870,6 milhões do mesmo período de 2008. Em seu relatório financeiro, a operadora destacou o crescimento no segmento residencial, através da oferta de internet com as marcas Speedy e Ajato .
Manter essas marcas no topo, porém, se transforma em um desafio cada vez maior, comenta Jaime Troiano, diretor da Troiano Consultoria de Marca. Essa sucessão de problemas é grave porque a Telefônica e o Speedy são marcas relativamente novas no país, em fase de consolidação , diz Troiano. Não serão ações de comunicação que resolverão os problemas, não há marca forte que resista a um produto de qualidade discutível.
Os analistas de marcas também chamam a atenção para o perfil dos usuários do Speedy, clientes que, em grande parte, são formadores de opinião.
Desde julho do ano passado, a infraestrutura da Telefônica sofreu quatro panes. Com exceção da mais recente, há duas semanas, todas causaram interrupções nas conexões de banda larga. Na semana passada, o Speedy voltou a ser alvo de reclamações, mas a operadora negou a ocorrência de problemas.
Os clientes não podem ficar reféns da impunidade da Telefônica , diz Maria Inês Dolci, coordenadora da organização Pro Teste. Na avaliação da instituição, a decisão da Anatel demorou a ser tomada. A empresa vendeu mais do que a sua capacidade atendia e procurou maximizar o lucro em vez de investir nos clientes , afirma.
A Pro Teste pede na Justiça paulista a anulação da cobrança da taxa de assinatura básica para todos os 11 milhões de clientes da Telefônica em São Paulo por conta da pane na telefonia fixa ocorrida neste mês. Nas contas da Pro Teste, a operadora arrecada R$ 313,7 milhões por mês com a assinatura básica.
Em janeiro, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação contra a Telefônica pedindo o ressarcimento a danos materiais e morais causados a milhões de consumidores nos últimos cinco anos diante da má qualidade dos serviços prestados . Os promotores pedem uma indenização de R$ 1 bilhão, o equivalente a cerca de 10% do faturamento da operadora nos últimos cinco anos. O processo está parado no Tribunal de Justiça de São Paulo, aguardando a apresentação da defesa da operadora.
Em relatório, a analista Jacqueline Lison, do Banco Fator, considera que a decisão da Anatel aumenta o desgaste da Telefônica. As falhas do Speedy já prejudicavam a imagem da empresa e a proibição piora ainda mais este ambiente , escreveu. Segundo cálculos da analista, a operadora deixaria de ganhar R$ 12 milhões por trimestre com a paralisação das vendas do Speedy. Alex Pardellas, do Banco Banif, também vê como negativa a decisão da Anatel, mas minimiza o impacto nas finanças da companhia. É ruim para a imagem da empresa, mas na geração de caixa não afeta muito , diz.
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