Operação da Vivo estreia regra nova
VALOR ECONÔMICO - SÃO PAULO - 01/06/09 - Pg. D-03
A incorporação que estreia a aplicação das sugestões da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para esse tipo de operação foi bem recebida no mercado.
As ações da Telemig Celular Participações, que serão incorporadas pela controladora Vivo, tiveram alta na sexta-feira, de 2,8%, após serem reveladas as condições da transação. Em 20 de março, as empresas anunciaram que fariam a integração das bases de acionistas, mas não divulgaram os termos.
A decisão sobre as condições ficou a cargo do comitê especial formado para cuidar do tema, conforme uma das sugestões da CVM para que as companhias lidem melhor com os potenciais conflitos dessas transações. Com isso, o mercado não sabia qual seria a relação de troca para as ações.
Roberto Lima, presidente da Vivo, afirma que as opções usadas para essa incorporação tinham como objetivo investir no bom relacionamento com os acionistas minoritários. "É preciso aproveitar todas as oportunidades do dia a dia para construir a imagem da companhia."
O grupo de telefonia tem no histórico a polêmica tentativa de incorporação da Tele Centro Oeste Celular pela Telesp Celular, que não vingou após queixa de minoritários e parecer negativo da CVM. Mas também tem a criação da Vivo, com a unificação de cinco empresas listadas, num processo que não gerou nenhum embate com os investidores.
Embora sem saber a relação de troca para a operação, o mercado passou perto. Segundo o diretor de relações com investidores e fusões e aquisições da Vivo, Carlos Raimar, a relação entre os papéis na bolsa nas últimas semanas estava em 1,33 ação de Vivo para a de Telemig Celular Participação. Na transação, cada papel da operadora mineira será trocado por 1,37 da Vivo. Um dia antes de o processo ser anunciado, em 20 de março, a relação era de 1,08.
Pelo fechamento de quinta-feira, antes do anúncio das condições, cada papel da Telemig Celular Participações valia o equivalente a R$ 54,80 - considerando 1,37 do preço de Vivo. Esse valor deixava espaço para alta de 5,3% sobre o encerramento do pregão.
A opção da Vivo e da Telemig Celular Participações para a operação não contou com glamour. As companhias não fizeram nada além do sugerido. O comitê foi formado só nas empresas incorporadas - a Telemig Celular S/A será absorvida pela sua holding antes da unificação na Vivo. Além disso, o órgão não contava com integrantes externos. Raimar explicou que, com isso, foi possível agilizar o processo, pois a convocação de pessoas independentes exigiria mudança no estatuto das empresas.
A simplicidade, porém, não impediu que o mercado gostasse do resultado. O custo da operação para a companhia é estimado em R$ 15 milhões. De acordo com o diretor da Vivo, os trabalhos adicionais com as sugestões da CVM incrementaram o gasto, mas não de maneira significativa.
Outra operação de incorporação que está em andamento, mas com muita polêmica envolvida, é a da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP). As companhias contrataram nomes de peso da economia para os comitês que serão formados nas duas empresas.
Para Mauro Rodrigues da Cunha, presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), é importante que o mercado acompanhe os trabalhos e os resultados dos comitês de incorporações, dado o histórico dessas transações.
"Não podemos correr o risco de isso se tornar um jogo de empurra-empurra de responsabilidades e os comitês chancelarem as decisões tomadas pelos conselhos das empresas. É preciso garantir independência." (GV)
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