VALOR ECONÔMICO - EMPRESAS - SÃO PAULO - 27/08/09 - Pg. B3 |
Gustavo Brigatto, Josette Goulart e Heloisa Magalhães, de São Paulo e do Rio
A esperada aprovação das regras que permitem o acesso à internet por meio das redes de energia elétrica - feita esta semana pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - promete estimular um novo movimento entre as concessionárias do setor, mas o caminho para que o consumidor brasileiro navegue na web pela tomada elétrica parece longo e caro.
Pelo menos três empresas de energia já possuem projetos pilotos - a CEEE no Rio Grande do Sul, a Copel no Paraná e a AES Eletropaulo em São Paulo. Mas dois pontos mostram porque ainda é difícil transformar essa oferta em produto de massa. O primeiro é o alto custo exigido para explorar o serviço. O segundo é a própria regulamentação: as regras estabelecem que as concessionárias têm de criar subsidiárias de telecomunicações e fazer ofertas públicas de uso de suas redes, mas sem garantias prévias. Ou seja, elas correm o risco de alugar sua infraestrutura para outras empresas e ficar sem rede para seus próprios serviços.
Ao invés de estimular a criação de alternativas, a decisão da Aneel vai estimular a concentração. A maioria das concessionárias não vai realizar a concorrência, diz Pedro Jatobá, presidente da Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel).
A Copel Telecom, braço da paranaense Copel, é uma das candidatas a entrar na concorrência pela oferta de internet ao consumidor. A companhia tem um projeto piloto em cerca de 60 residências na pequena cidade de Santo Antônio da Platina, onde fornece acesso à internet com velocidades entre 3 e 30 megabytes por segundo (Mbps). A previsão, diz o gerente comercial da Copel Telecom, Orlando Cesar de Oliveira, é que os testes comerciais vão começar no ano que vem. Para chegar a todo o Estado, o investimento estimado é de US$ 400 milhões. A decisão de investimento, porém, deve ficar para o próximo governo estadual, já que a Copel é estatal.
Para Oliveira, o fato de as empresas de energia não terem exclusividade sobre suas redes é um dos principais empecilhos ao avanço desse tipo de projeto. Mesmo assim, os planos de comercialização já estão traçados. A Copel Telecom estuda um modelo de cobrança por consumo de banda e não pela velocidade de conexão. Seria algo parecido com a tarifa de energia elétrica, em que o cliente paga pelo que consumiu.
O presidente da gaúcha CEEE, Sérgio Campos de Morais, diz que o projeto piloto da empresa, feito em um bairro pobre de Porto Alegre, mostrou que os investimentos são muito pesados e podem inviabilizar o negócio no curto prazo. Só o modem de acesso custa R$ 400, fazendo com que perca competitividade para a tecnologia sem fio, diz Morais. A CEEE está em fase de estudo para montar sua empresa de telecomunicações.
A AES Eletropaulo Telecom, de São Paulo, pretende fornecer o serviço para outras operadoras, não vê o preço do modem como um obstáculo. A diretora da empresa, Teresa Vernaglia, diz que a vantagem das rede elétrica é o fato de chegar a lugares em que as redes tradicionais de internet não chegam ou já estão saturadas. Em São Paulo, 150 apartamentos testam a internet pela rede elétrica.
A Ampla, do Rio de Janeiro, informou que ainda estuda o uso da rede elétrica para oferecer serviços de telecomunicações. A Neoenergia, com redes de distribuição em Pernambuco e na Bahia, informou que ainda não tem posição definida sobre o assunto.
Já a CPFL não tem intenção de prestar esse tipo de serviço. O presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior, disse que estudos de viabilidade mostraram que o investimento seria mais bem aproveitado pelas próprias operadoras de telefonia.
Pelo lado das operadoras de telefonia existe alguma resistência em usar a rede elétrica para oferecer internet em banda larga. A GVT afirma ter avaliado a tecnologia e descartado seu uso no curto prazo. De acordo com a empresa, com a tecnologia não é possível oferecer velocidades de 100 Mbps como a companhia já dispõe, hoje, com redes de cobre e fibra óptica. Além disso, a operadora alega que a qualidade da navegação na internet pode ser comprometida por causa de interferências do sinal elétrico.
A Oi diz que seu investimento é destinado preferencialmente às redes de cobre e fibra ótica (no caso da banda larga fixa) e a tecnologias móveis sem fio, como a 3G, que já possuem boa cobertura e cujos custos são comprovadamente acessíveis. Segundo a Oi, a rede elétrica pode ser uma alternativa para a distribuição de dados dentro da casa do cliente, um modelo já testado pela Brasil Telecom, adquirida pela Oi.
A Embratel informou que já iniciou estudos para viabilizar o acesso à internet pela rede elétrica. Por questões estratégicas, não quis dar detalhes. A operadora disse acreditar que, se o investimento compensar, a tecnologia poderá ser usada na chamada última milha, a parte da rede que chega à casa do consumidor.
Outra empresa que avalia a tecnologia para ampliar sua infraestrutura de rede é a TIM. A operadora afirmou que também avalia outras opções. Em abril, a operadora de telefonia móvel anunciou a compra da Intelig por R$ 750 milhões com o objetivo de reforçar sua rede de transmissão de dados e reduzir os custos com o aluguel da rede de terceiros.
Por meio de suas assessorias de imprensa, Telefônica e Transit Telecom disseram que não iriam comentar o assunto.
Com tantas incertezas pelo caminho, executivos do setor acreditam que em vez de se tornar uma alternativa para o consumidor, a tendência futura é de que as distribuidoras de energia se tornem, elas próprias, usuárias da tecnologia para outros fins.
Um exemplo é a adoção dos medidores digitais de energia. Em vez de enviar funcionários a cada domicílio para fazer a leitura do consumo de energia, a concessionária poderia usar a própria rede elétrica para recolher os dados, o que reduziria os custos e aumentaria a qualidade das informações.