VALOR ECONÔMICO - CONECTIVIDADE - SÃO PAULO - 18/05/09 - Pg. F-01
Quando o assunto é conectividade, a ordem é universalizar. Conectar o Brasil inteiro à internet por meio de redes de alta velocidade é ambição do governo federal e das operadoras de telecomunicações, que se desdobram em planos de investimentos para a ampliação da infraestrutura de banda larga em solo nacional. As oportunidades de negócios são tão grandes quanto o desafio. O país soma dez milhões de assinantes do serviço de banda larga, o que representa teledensidade de 5,3 conexões para cada 100 habitantes, de acordo com dados da consultoria Teleco. Nos países ligados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que inclui membros da União Europeia, a média registrada em junho do ano passado foi de 21,7. O índice chega a 36,7 na Dinamarca, 25 nos Estados Unidos e está na casa de 19 acessos na Itália e Espanha.
Entre os destaques de países que apostaram na conectividade para promover o desenvolvimento está a Coréia, que registrou, no ano passado, densidade de 31,2, somou mais de 15 milhões de conexões contratadas e é exemplo mundial de revolução no sistema de ensino. "Temos um caminho longo para melhorar a conectividade no Brasil. Quando olhamos o avanço da banda larga no mundo, percebemos que a penetração do serviço ainda é muito baixa por aqui", destaca Eduardo Tude, presidente da Teleco.
Na América Latina, o Brasil está atrás da Argentina, com teledensidade de 7,8 conexões para cada 100 habitantes, do Chile (8,5) e do Uruguai (6,5), de acordo com dados levantados pela consultoria IDC Brasil. Em contrapartida, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada pelo IBGE, mostram aumento no número de domicílios que possuem microcomputador com acesso à internet (de banda larga e estreita). Em 2007, 20,2% dos domicílios pesquisados tinham equipamentos ligados à rede. Em 2004, o percentual foi de 12,2%. "O computador já é um equipamento visto como necessário pelas famílias brasileiras e a demanda por conectividade de alta velocidade é grande", avalia Cássio Tietê, gerente de expansão de negócios da Intel.
Conectividade e banda larga, na visão de especialistas, são recursos inseparáveis, uma vez que as conexões de alta velocidade são consideradas o passaporte para a sociedade da informação e uma condição essencial para o crescimento econômico no mundo globalizado. O problema é que a banda larga não chega a todos os municípios brasileiros e tropeça na falta de viabilidade econômica para avançar às regiões mais pobres. A instalação de redes é cara e quem está no negócio prefere locais onde com retorno financeiro garantido.
Um estudo que mede o avanço da banda larga no Brasil, realizado pela IDC para a Cisco, aponta que, enquanto a teledensidade do serviço é de 9,12 no Estado de São Paulo, no Nordeste é de 1,09, e no Norte ainda é inferior a 3 conexões para cada grupo de 100 habitantes. "O crescimento econômico precede a sociedade em rede. Infelizmente, no Brasil, o serviço de banda larga é considerado um luxo e este pensamento agrava a exclusão digital", afirma Tietê, lembrando que 90% das conexões rápidas concentram-se nas classes A e B e que não haverá avanço sem a popularização.
José Paulo Bruder, analista da IDC, lembra que os links mais baratos adicionam R$ 50 à conta telefônica e a franquia cresce de acordo com a velocidade contratada. Em locais onde a concorrência é restrita, o preço é ainda maior. "Para universalizar, temos de reconhecer que banda larga não é um artigo supérfluo", avisa. Mesmo com preços altos, a contratação de banda larga cresce ano a ano. De acordo com a Cisco, em 2008, houve aumento de 45,9% no número de conexões de alta velocidade no país.
O avanço deve-se às novas ofertas de pacotes dos provedores de serviços e conta com a ajuda da manutenção da redução de impostos para computadores com preços inferiores a R$ 4 mil. Foi uma conquista do programa Computador para Todos, do governo federal que, por meio de isenção fiscal, reduziu em 9,25% o preço dos aparelhos, além de criar uma linha de crédito especial para famílias de baixa renda. Outro fator para a ampliação está na utilização de aplicações de vídeo e música, cujas necessidades de banda impulsionaram a contratação de acessos com velocidades maiores. "Usuários querem conexões ainda mais rápidas, uma demanda puxa outra", diz Bruder.
A boa notícia para os brasileiros é que diante da demanda reprimida só há uma saída para a conectividade: a ampliação. Isso se traduz em esforço do governo e da iniciativa privada para colocar conexões de alta velocidade ao alcance de todos. No ano passado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) reviu algumas metas previstas nos contratos de concessão das operadoras de telefonia fixa e propôs que Oi, Brasil Telecom, Telefônica, CTBC e Sercomtel levassem a todos os municípios brasileiros infraestrutura de acesso à banda larga (conhecida no setor de telecomunicações como backhaul). Em contrapartida, as operadoras ficaram livres da obrigação de instalar Postos de Serviços de Telecomunicações (PSTs) nas cidades brasileiras.
Apesar de polêmicas em relação à regulamentação e ao modelo de negócios do backhaul, a troca foi bem recebida pelas operadoras. Elas deixam de ter um centro de custos nas cidades e passam a instalar infraestrutura que, além de contribuir com a sociedade, pode trazer receitas. Nos planos do governo, até 2010, todos os municípios terão pontos de conexão à rede de alta velocidade. Com isso, a educação deve ganhar impulso e programas como o Banda Larga nas Escolas poderão alcançar suas metas. Entre os ganhos sociais está a conexão à internet de 56,9 mil escolas públicas de educação básica até 2010.
Outro avanço é a criação de um pacote de isenção fiscal para a banda larga popular, com conexões que não poderão custar mais do que R$ 30. Em abril, os governos de São Paulo, Pará e Distrito Federal foram autorizados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) a negociar isenção de ICMS para a oferta do serviço. "A carga tributária chega a 40% do valor das conexões. A isenção será um ótimo estímulo", comenta Marcio Fabbris, diretor de produtos residenciais da Telefônica."
As operadoras também buscam tecnologia para ampliar a capilaridade das redes e a telefonia celular tem vocação de acelerar a democratização do acesso à banda larga, ofertando conexões a preços acessíveis", comenta Tietê. Ele lembra que as companhias de telefonia celular têm realizado investimentos maciços em suas redes para promover o uso da internet móvel. Para elas, é fundamental ampliar a venda de serviços de valor agregado, entre eles a conexão em banda larga, para gerar receita. Atualmente, os serviços de dados respondem por apenas 10% do faturamento das celulares. "Na Europa, a média varia de 20% a 50% da receita", afirma Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor agregado da Claro.
Em março, segundo dados da Teleco, havia 4,6 milhões de dispositivos com capacidade para acessar a rede de terceira geração (3G), o que corresponde a 2,8% da base total de celulares do país - 153,6 milhões de linhas. De acordo com a Teleco, a cobertura já está disponível em 568 municípios. "O avanço das redes móveis vai colocar mais pressão nas operadoras fixas e isto vai trazer melhorias significativas no serviço", aposta Tude, da Teleco.
Além das redes móveis, a Anatel publicou em abril resolução aprovando o regulamento para utilizar as redes de energia elétrica na oferta de serviços de banda larga. Com isso, deu sinal verde a empresas que quiserem investir em novas tecnologias para aproveitar os cabos da rede elétrica e prover o serviço. A ideia é acabar com a discussão em torno da última milha, que é a parte da conexão que chega até a casa do usuário. Em telecomunicações, a rede local fixa está nas mãos das herdeiras do sistema Telebrás, que junto com as concessões compraram a infraestrutura instalada no país. Para competir com Oi, Brasil Telecom e Telefônica, por exemplo, é preciso construir novas redes. "A rede elétrica é uma alternativa. Mas ainda vai exigir muito trabalho para se tornar uma realidade", considera Bruder.