
Telesemana
Chile, Brasil, Argentina e México - nesta ordem -
serão os primeiros mercados a lançar redes LTE na América Latina, segundo
pesquisa realizada pela Telesemana. O surgimento da sucessora das tecnologias de
3G (GSM, GPRS e WCDMA.), porém, não acontecerá sem a superação de alguns
obstáculos, dos quais se destacam os entraves e a morosidade do ambiente
regulatório e a indisponibilidade de algumas faixas de espectro - como os 700
MHz.
O Chile foi apontado como o mercado mais apto a lançar LTE, na
pesquisa, por duas razões. A primeira é sua posição de primeiro mercado regional
a lançar GSM, GPRS e WCDMA. Além disso, as operadoras Claro e Entel PCS já
realizaram os primeiros testes públicos de LTE, em conjunto com os provedores
Nokia Siemens Network (NSN) e Ericsson. A importância histórica de pioneiro no
lançamento de novas tecnologias, sua situação econômica, a posição de Claro e
Entel PCS e as iniciativas da agência reguladora dão ao Chile ferramentas
eficazes para a outorga de novo espectro e faz com se encare o país como o de
melhores condições para iniciar a comercialização da LTE.
Enquanto o
mercado chileno já conta com a licitação de espectro em 2,5 GHz e, talvez, em
700 MHz -, o Brasil surge como outro possível candidato a lançar a tecnologia. A
Telefónica informou, no ano passado, a intenção de realizar testes com a
tecnologia em seis de suas filiais, das quais duas em suas subsidiarias
latino-americanas: Brasil e Argentina. A carrier espanhola não incluiu sua
subsidiária do Chile, porque quer marcar no Brasil posição de líder de mercado,
comprometida como a primeira a lançar novas tecnologias - como fez no passado
com o EV-DO.
Já a opção pela Argentina baseou-se no fato de este ser o
mercado onde a banda larga móvel pessoal cresce à maior velocidade. Além disso,
a Argentina conta com penetração do serviço móvel que supera os 100%, sendo o
primeiro país a superar esta barreira, na região. Mas, os entrevistados da
pesquisa da Telesemana não levaram em conta estas circunstâncias nas suas
respostas, talvez devido à falta de espectro ou de anúncios relacionados a uma
possível licitação na Argentina. Além disso, o governo argentino não deu
qualquer sinal de que pretenda outorgar espectro para LTE.
O México, por
sua vez, não recebeu muitas apostas dos entrevistados, o que pode levar a várias
leituras. A primeira é o nível de competição no país. O domínio da Telcel não
convida a que se faça muito esforço em inovação. Além disso, o regulador
mexicano, Cofetel, se tem mostrado um tanto ineficiente na hora de outorgar novo
espectro, como no de WiMAX ou na recente paralisação no processo de licitação de
espectro nas bandas de 1700 MHz e 2100 MHz para a expansão dos serviços 3G no
país.
A Venezuela também está no páreo, pois a Movistar já anunciou o
possível lançamento de LTE em 2011.
Desafios
A pesquisa salienta
que, como qualquer nova tecnologia emergente, a LTE enfrenta uma série de
desafios tecnológicos, regulatórios e de mercado, que devem ser superados antes
que a tecnologia seja adotada de maneira massiva. Sem a superação destes
desafios, a tecnologia, como já ocorreu em outras ocasiões, pode não chegar a
decolar na região.
Sob o ponto de vista de regulamentação, trata-se de
dispor de espectro de onde se possa lançar uma tecnologia que, para ser
diferente do HSPA+, necessita de canais mais amplos (possivelmente 10 MHz por 5
MHz, utilizados em WCDMA/HSPA). Como nas evoluções tecnológicas anteriores, há a
discussão sobre em que faixa deve implantar-se a tecnologia, para que se
obtenham os melhores benefícios.
O mercado parece ter se decidido pelas
pela banda em 2,5 GHz, proposta para o mercado europeu, e a dos 700 MHz, apoiada
pelas operadoras dos Estados Unidos. O problema com esta segunda banda de
radiofrequência é que em alguns mercados ela não foi liberada e não estará
disponível até que haja a migração completa para a TV digital
terrestre.
Na pesquisa, fica evidente que o problema de espectro é o
principal obstáculo a ser superado pela LTE. Embora surja como um problema
temporal - pois as principais agências reguladoras já trabalham na confecção de
licitações para o lançamento da LTE, o espectro não deixa de ser elemento
fundamental para sua plena adoção. O WiMAX, por exemplo, sofreu bastante pela
ineficiência regulatória na hora de se outorgar as bandas de 2,5 GHz ou 3,5 GHz.
Os casos de Brasil e México são notórios na América Latina.
Outros
mercados emergentes, como China ou Índia, também se mostraram ineficientes na
entrega de espectro para 3G (China) ou WiMAX (Índia). Ao não ver o processo de
outorga de espectro na maioria dos mercados, a pesquisa da Telesemana reflete
esta incertez, que resulta no principal obstáculo que a LTE deve
superar.
Curiosamente, a indústria leva meses debatendo sobre qual é a
melhor solução para oferecer serviços de legado, voz e SMS. E embora estes
serviços não sejam considerados prioritários nos primórdios de uma tecnologia,
devem ser definidos de uma forma padronizada e única. Mas, a pesquisa não define
a fragmentação das soluções como um problema, pois os dispositivos com
capacidade de voz e SMS podem demorar 12 meses para aparecer no
mercado.
Há dois fatores preocupantes nos lançamentos de LTE da América
Latina que impactam as operadoras desde o início. O primeiro é o backhaul, já
insuficiente para a 3G, em muitos casos. O outro é não só sobre se há demanda,
mas se o usuário estará disposto a pagar mais pelos serviços de LTE, superiores
aos do HSPA.
Autor: Rafael A. Junquera, diretor editorial da
Telesemana