Crise não atinge fornecedores nem operadoras de telefonia
GAZETA MERCANTIL - TI & TELECOM - SÃO PAULO - 26/02/09 - Pg. C2
A indústria de equipamentos de telecomunicações não detectou sinais de crise nas encomendas das operadoras telefônicas fixas e celulares, entre as quais Telefônica, Oi, Vivo, TIM e Claro. "Até o momento, espero que continue assim, ninguém recuou nos investimentos programados", afirmou o presidente do conselho de uma das mais importantes fornecedoras mundiais, a Nokia Siemens na América Latina, Aluizío Byrro. Ele reconhece que a área de equipamentos sente os reflexos de forma tardia em relação à de aparelhos celulares, por exemplo, que já viveram um janeiro bem ruim e experimentam fevereiro um pouco melhor.
Mas se as pessoas adiam a troca do celular, não significa que parem de falar ao telefone, o que dificilmente deverá ocorrer, acredita o executivo.
Talvez o ano de 2009 não mostre o vigor que caracterizou 2008, quando os investimentos em ativos fixos das operadoras alcançou R$ 16 bilhões. Mas se ficarem abaixo em 10%, atingindo R$ 14,4 bilhões, ainda assim será um ano muito bom, pois representará expansão em relação a 2007 e 2006, quando os gastos com expansão de infra-estrutura ficaram em torno de R$ 12,5 bilhões, comparou Byrro.
Telefone é essencial
A necessidade da comunicação, com ou sem crise, funciona como garantia de demanda crescente, alega executivo de uma fornecedora que pediu para não ser identificado. "O uso já é baixo por parte de 80% dos brasileiros que têm celular e que optam pelo sistema pré-pago. Por isso, dificilmente, cairia mais que isto", afirmou.
Numa situação de crise econômica, as pessoas continuam precisando se comunicar, e talvez apenas reduzam a transmissão de dados, mas não as ligações de voz, ponderou a fonte.
Por outro lado, as operadoras têm de manter os investimentos por vários motivos. Elas têm de cumprir metas e dar satisfações à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em segundo, têm de atender à demanda progressiva por parte de clientes que querem cobertura e banda larga. Em terceiro, temem perder fatias de mercado para os concorrentes, pois a disputa é acirrada. Logo, investem para crescer.
Câmbio e crédito
Byrro, da Nokia Siemens, considera que apesar de o setor vir bem até aqui, dois fatores poderão promover efeitos negativos sobre o mercado - câmbio e escassez de crédito.
Mesmo que as operadoras digam que repetirão este ano o mesmo nível de investimentos do ano passado, se o câmbio continuar oscilando, o valor em reais poderá não corresponder ao mesmo volume em dólares, afirmou Byrro. E o resultado seriam menos equipamentos com o mesmo volume de dinheiro.
A dificuldade de crédito é outra questão essencial e que poderá ter impacto negativo se impedir as teles de captarem recursos para investir. "Se o dólar ficar estabilizado em torno de R$ 2,30, as compras ficarão equilibradas", afirmou Byrro. Caso contrário, o setor poderá se ressentir em função de o nível de nacionalização dos equipamentos não ultrapassar os 40%. "O País não dispõe de fornecedores de chips e as empresas são obrigadas a importá-los", disse Byrro.
De qualquer forma, a condição de mercado em expansão dá ao Brasil um fôlego maior que o dos outros países, nos quais o uso do telefone celular é muito mais disseminado. "Quem tem uma boa carteira, como a Nokia Siemens, tem colchão por pelo menos seis meses", previu. O problema virá se não entrarem boas encomendas no semestre, ponderou Byrro.
(Thaís Costa)
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